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Como todos já devem saber, O Artista foi o grande vitorioso do Oscar de 2012 ao levar cinco estatuetas para casa, incluindo melhor filme e diretor. Dos treze palpites que publiquei aqui no blog sobre prováveis vencedores nas diversas categorias, acertei dez e errei apenas três (fotografia, atriz e montagem), o que mostra mais uma vez como a premiação se tornou previsível. Por outro lado, sete prêmios foram para quem eu achava que os merecia, um número que considero bem razoável pelo histórico de erros do Oscar. Abaixo faço meus comentários sobre a cerimônia e seus resultados.

– Desde que comecei a acompanhar o Oscar, foram raros os momentos em que a premiação me surpreendeu positivamente, mas nunca perco as esperanças de que isso possa ocorrer. No ano passado, a diferença de qualidade e relevância entre A Rede Social e O Discurso do Rei era tão grande que segui acreditando no triunfo do filme de David Fincher. Quebrei a cara. Neste ano, ainda me animei quando A Invenção de Hugo Cabret ganhou vários prêmios no começo da festa, mas me dei mal mais uma vez.

–  Acredito que muitas vezes a comparação entre filmes se torne altamente subjetiva, mas no Oscar, uma premiação da indústria de cinema, quem tem prioridade na maioria das vezes é a visão comercial (se há dois produtos, um deve ser melhor que o outro) sobre a artística (cada obra tem suas peculiaridades). No entanto, este foi o ano em que mais vi sentido no embate entre os dois filmes com mais indicações, uma vez que ambos tratavam de temas semelhantes. Assim, fico mais desapontado ainda ao perceber que no que há de essencial em A Invenção de Hugo Cabret e O Artista, a homenagem ao Cinema, o filme de Scorsese é muito mais abrangente e profundo.

– Billy Crystal bem que tentou transformar a festa em algo mais agradável. O vídeo de abertura, que fez paródias com os concorrentes a melhor filme, foi interessante, assim como as constantes piadas sobre o nome do teatro em Los Angeles (antes chamado de Kodak Theater, o local deve ser renomeado após a tradicional empresa ter pedido concordata). Mas o maior acerto de Crystal ocorreu quando tentou reproduzir os pensamentos de alguns dos concorrentes presentes. Sua imitação da mente cinematográfica de Martin Scorsese foi impagável

– Crystal tinha a seu favor o fato de que seria impossível ser pior do que James Franco e Anne Hathaway, apresentadores do Oscar em 2011. Se houver uma comparação entre as duas festas, vai ficar claro que ele deve seguir à frente da cerimônia no ano que vem

– Os discursos não contribuíram para transformar a festa da Academia em algo interessante. A melhor fala de um vencedor foi de Christopher Plummer, que olhou para a estatueta de ator coadjuvante e falou algo como: “você só é dois anos mais velha do que eu”. (Com 82 anos, Plummer é o artista mais velho a ganhar um Oscar)

– Já Octavia Spencer foi quem mais se emocionou, por seu Oscar de atriz coadjuvante, e mal conseguiu discursar. O aplauso de pé para ela foi um exagero, já que Berénice Bejo e Janet McTeer tiveram atuações melhores na categoria

– Como nos últimos anos, o acúmulo de premiações antes do Oscar fez com que a disputa não apresentasse grandes surpresas, e com isso ficasse monótona. Só duas categorias tiveram vencedores diferentes dos esperados: a montagem de Millenium levou a melhor sobre a de O Artista, merecidamente, enquanto que a fotografia de A Invenção de Hugo Cabret bateu o favorito A Árvore da Vida, injustamente.

– Como tinham vencido no ano passado pelo trabalho em A Rede Social, Kirk Baxter e Angus Wall ficaram surpresos com o novo prêmio de montagem, desta vez por Millenium – Os Homens que Não Amavam As Mulheres. O arremedo de discurso e a rápida saída do palco têm uma explicação: é muito raro a Academia repetir vencedores em anos consecutivos

– Já a categoria que era mais disputada, a de melhor atriz, ficou com Meryl Streep mesmo após Viola Davis levar o prêmio do Sindicato dos Atores. As duas tiveram ótimas atuações, mas Streep merecia mais

– Na disputa entre George Clooney e Jean Dujardin pelo prêmio de melhor ator, o francês conseguiu bater um dos maiores astros de Hollywood, de forma justa. No entanto, seu discurso e sua eterna pose de canastrão aumentaram a minha impressão de que Dujardin é um ator de um personagem só. Veremos se estou certo nos próximos filmes dele

– Conhecido por não frequentar premiações, Woody Allen foi anunciado como vencedor do prêmio de melhor roteiro original pelo ótimo Meia-Noite em Paris. Não tenho dúvidas de que a postura reclusa do diretor já o tenha impedido de conquistar outros prêmios, e o reconhecimento da Academia deve estar diretamente relacionado ao fato de que o filme foi um grande sucesso de público e crítica