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our nixon

Seja por desenhos, fotos ou vídeos, o ser humano costuma ter o desejo de registrar a sua efêmera passagem pela Terra. Se hoje em dia o Instagram é um fenômeno de popularidade, nos anos 60 e 70 o meio utilizado com essa finalidade era a câmera super-8. Durante o período em que Richard Nixon permaneceu na presidência dos EUA, três de seus assessores mais próximos (H.R. Haldeman, Dwight Chapin e John Ehrlichman) tinham como hobby a utilização desses equipamentos para a gravação de vídeos caseiros dentro e fora da Casa Branca. No decorrer da investigação do escândalo de Watergate esse material acabou apreendido pelo FBI e só foi liberado recentemente, sendo que parte dessas imagens pode ser vista no ótimo documentário Nosso Nixon, da diretora Penny Lane.

O filme não incorre no erro histórico de julgar o ex-presidente americano baseado apenas no escândalo que resultou em sua renúncia e na prisão de seus principais assessores (os mesmos que documentaram com entusiasmo, através de filmagens, as suas passagens pela Casa Branca). Dessa maneira, quando um braço direito de Nixon diz esperar que o político seja reconhecido posteriormente como um dos maiores presidentes da história dos EUA, a hoje risível afirmação não se mostra nada absurda quando verificamos a incrível popularidade que seu governo possuía antes dos desdobramentos do escândalo de Watergate.

A ascensão e a queda de Nixon e de seus assessores são retratadas muito bem pelo documentário. A princípio, os auxiliares do presidente são jovens que alcançaram um estágio profissional pouco comum para a idade e se deslumbram com essa situação, buscando registrar em imagens cada segundo daqueles momentos – sejam eles encontros com o presidente da China e o Papa ou festas familiares. Hoje já um senhor de idade, Dwight Chapin diz que nunca riu tanto na sua vida quanto naquele período em que fazia parte da equipe presidencial.

A falta de limites no poder, contudo, parece ter sido a grande inimiga do governo Nixon. O próprio presidente, em um ato impensado e controlador, decidiu gravar todas as conversas que tinha dentro da Casa Branca (“vamos precisar disso um dia”), e a posterior divulgação dessas fitas foi fundamental para sua renúncia ao cargo.

Além das articulações políticas ocorridas antes e depois da invasão do comitê de campanha do partido democrata nas eleições de 1972, as fitas revelam momentos peculiares de Nixon, como no momento em que diz que um discurso que acabara de fazer na TV foi “uma obra de arte”, ou quando, em declarações que poderiam perfeitamente ter saído da boca do deputado federal Marco Feliciano, diz que a homossexualidade foi a responsável pela queda do Império Romano.

Esses momentos constrangedores, contudo, não escondem a grande aceitação popular que Nixon tinha, como comprova o assombroso resultado das urnas em sua reeleição – ele venceu em 49 dos 51 estados existentes na época nos EUA. Dessa forma, Nosso Nixon demonstra como pode ser tênue a linha que separa os grandes personagens históricos daqueles que só deixam o esquecimento quando as piores coisas que fizeram são lembradas.

Nota: 8,0/10

Próximas sessões no É Tudo Verdade:

– CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL BRASÍLIA (BRASÍLIA): 20/04 – 21H