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36ª Mostra, A Copa Esquecida, Baggio, Filippo Macelloni, Gary Lineker, João Havelange, Jorge Valdano, Lorenzo Garzella, Mostra de São Paulo, Prêmio do Público, Roberto Baggio
Quem tem um conhecimento mínimo sobre a história do futebol sabe que a Segunda Guerra Mundial inviabilizou as disputas das Copas do Mundo de 1942 e 1946, e que o torneio, que havia sido realizado pela última vez em 1938, na França, só voltaria a ser disputado em 1950, no Brasil. Esta versão oficial, contudo, é negada pelo divertido documentário A Copa Esquecida, que garante que o Mundial de 1942 ocorreu sim, e foi disputado na Patagônia.
A suposta descoberta dos restos mortais de um cinegrafista e de sua antiga câmera filmadora em um sítio arqueológico é o ponto de partida para uma investigação que vai, aos poucos, desvendando todos os curiosos fatos sobre aquele torneio desconhecido. Para trazer um pouco de verossimilhança à absurda premissa, os diretores italianos Lorenzo Garzella e Filippo Macelloni utilizam uma linguagem típica de documentários à la National Geographic, obtendo um vasto “material de arquivo” sobre a competição, que inclui imagens de época, narrações de jogos e recortes de jornal. Além disso, há a interligação dos acontecimentos do filme com fatos reais, como a filmagem das Olimpíadas de 1936 por Leni Riefenstahl e o roubo misterioso da taça Jules Rimet no Brasil, na década de 80.
A trama se torna ainda mais interessante – e hilária – devido aos depoimentos de ex-jogadores famosos como Gary Lineker, Roberto Baggio e Jorge Valdano, que dizem o que sabem sobre o Mundial da Patagônia, e de atletas desconhecidos, que teriam protagonizado aquela competição. Há ainda espaço para uma breve fala do ex-presidente da Fifa João Havelange, que não demonstra a mesma capacidade de atuação de Lineker e acaba por expor a farsa proposta pelo filme.
Nada que atrapalhe um documentário que se destaca justamente pela comicidade provocada por suas situações absurdas, como as criativas e bizarras câmeras criadas pelo cinegrafista argentino (incluindo um tal “cine-capacete”); a origem do juiz do torneio; as jogadas acrobáticas dos índios Mapuches; o inédito uso da tecnologia para definir se a bola entrou ou não no gol (algo que só foi permitido recentemente pela Fifa); etc.
Apostando nessa abordagem nonsense, os diretores exaltam o romantismo com o qual o futebol era tratado antigamente e, indiretamente, contrapõem essa ideia ao profissionalismo exacerbado que predomina no esporte na atualidade. Assim, o filme parece dizer que, 70 anos depois da Copa que nunca existiu, a paixão “pura” pelo jogo – simbolizada pelos índios Mapuches – já perdeu muito de sua essência.
Nota: 7,5/10
PS: O filme ganhou o Prêmio do Público de melhor documentário dessa Mostra. Sua última exibição no evento está marcada para esta quarta-feira, às 17h40, no Cinesesc.