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Amor, Argo, Ben Affleck, comentários Oscar 2013, Lincoln, Michael Haneke, O Mestre, Oscar 2013, Paul Thomas Anderson, Steven Spielberg
Nem tudo que é longo é chato, mas as mais de três horas e meia de duração da cerimônia do Oscar 2013 se tornaram uma eternidade graças a uma premiação sem grandes surpresas, a um apresentador (Seth MacFarlane) sem inspiração alguma e à cafonice das insistentes apresentações musicais – e quem achava que nunca mais iria ouvir Russell Crowe cantando depois de Os Miseráveis foi obrigado a se deparar com a desafinação do ator mais uma vez.
Como de costume, a premiação pouco fugiu do previsível. Dos 13 palpites que dei sobre os prováveis vencedores das estatuetas, errei apenas três. Na categoria de ator coadjuvante, a mais disputada de todas, achava que Tommy “Cauby Peixoto” Jones seria premiado por seu trabalho em Lincoln, mas fiquei feliz pela escolha do ótimo Christoph Waltz, de Django Livre – embora ainda prefira Philip Seymour Hoffman em O Mestre.
Em roteiro adaptado, Argo bateu Lincoln e pavimentou sua trajetória rumo à estatueta principal. Já no prêmio de melhor direção, a ausência de Ben Affleck possibilitou a única grande surpresa da noite, com Ang Lee levando o troféu que parecia destinado a Steven Spielberg, mas que deveria ter sido entregue a Michael Haneke.
Excetuando-se Amor, de Haneke, não havia entre os indicados a melhor filme nenhuma obra que fosse brilhante. Assim, o que predominou na seleção foram produções regulares ou medianas, que não provocaram sentimentos exacerbados de amor ou ódio no espectador. Esse aspecto tornou a premiação ainda mais desinteressante, pois a possível indignação por escolhas polêmicas foi substituída pela mais simples e pura indiferença.
A grande divisão na entrega das estatuetas, que poderia significar um acúmulo de grandes filmes, apenas mostrou que o ano não foi especialmente marcante para o cinema hollywoodiano. A opção por Argo, filme interessante até o previsível ato final, só reforça a preferência que a Academia tem dado, nos últimos anos, a obras de diretores iniciantes ou pouco conhecidos em detrimento de nomes consagrados.
Seguindo nessa linha, a primeira imagem que a premiação passa é a de que está atenta às novas gerações de cineastas. Porém, quando analisamos mais profundamente os filmes escolhidos, podemos perceber que essa tendência está muito mais relacionada à necessária renovação comercial da indústria cinematográfica do que a qualquer outra coisa.
Premiar Argo em vez de Amor, ou Jennifer Lawrence no lugar de Emmanuele Riva, não traz nada de inovador ao Oscar. Admito que seria loucura esperar que a conservadora Academia fosse privilegiar um filme austríaco falado em francês, mas não entendo por que O Mestre foi completamente ignorado pela premiação.
Se algum filme complexo e audacioso como o de Paul Thomas Anderson tiver espaço no Oscar algum dia, aí sim poderemos falar que a Academia está aberta à renovação e à inovação. Até lá, porém, teremos que nos contentar com as novidades “para americano ver” que se sucedem a cada ano.