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Com o ano de 2013 perto do fim, é chegado o momento de olhar para trás e analisar tudo o que passou pelos cinemas brasileiros nos últimos doze meses. Para escolher as produções que mais se destacaram nesse período preferi me ater apenas a filmes que chegaram ao circuito comercial nacional. Assim, filmes como O Último dos Injustos, de Claude Lanzmann, e Cães Errantes, de Tsai Ming Liang, que brigariam pelas primeiras posições, não puderam ser relacionados. Vamos à lista:
10 – Tatuagem*, de Hilton Lacerda
Em um plano mais superficial, o conflito se restringe ao encantamento de Fininha pelo novo mundo descoberto, algo que provoca um amadurecimento que só virá através de escolhas que fatalmente lhe trarão consequências. As possibilidades de leitura do filme, no entanto, são ampliadas quando pensamos que ele trata da expectativa acerca de um futuro que nada mais é do que o nosso presente, e que essa discussão pode englobar temas diversos como política, valores da sociedade e o próprio fazer cinematográfico. – Leia a crítica completa
9 – Blue Jasmine, de Woody Allen
Fosse uma atriz com menos talento no papel de Jasmine, possivelmente a atitude esnobe e desagradável da personagem causaria apenas repulsa nos espectadores. A atuação de Cate Blanchett, porém, traz um misto de fragilidade e desespero que faz dela uma figura digna de pena, e que, portanto, deixa o papel de vilã e se torna uma vitima não só das circunstâncias, mas principalmente dela mesma. – Leia a crítica completa
8 – Gravidade, de Alfonso Cuarón
A longa primeira sequência desse filme já demonstra o apuro visual do diretor Alfonso Cuarón. Utilizando com êxito a liberdade propiciada pelo local onde a história se passa (o espaço), o cineasta mexicano consegue rapidamente imergir o espectador dentro da trama e fazê-lo se importar com a jornada da protagonista vivida por Sandra Bullock.
Apesar do status de superprodução, é um filme com uma história simples de reencontro da personagem principal consigo mesma. Sem a pretensão filosófico-existencial de filmes como 2001: Uma Odisseia No Espaço ou Solaris, Gravidade não deixa, por isso, de ter várias camadas de entendimento. A cena em que Bullock fica na posição fetal dentro de uma nave (útero) sugere o seu renascimento, que é completado com um mergulho na água (elemento essencial para a vida) e a posterior sugestão da trajetória da evolução animal. A própria gravidade é retratada metaforicamente na obra como tudo aquilo que nos impele a continuar vivendo.
7 – Amor, de Michael Haneke
Dois brilhantes atores veteranos contracenam quase apenas em um único espaço conforme a decadência física surge como um obstáculo para uma relação construída ao longo de décadas. Como é de seu costume, Haneke faz um filme seco, sem concessões ao espectador, mas fica difícil não admirar a sua habilidade na direção, realçando sutilezas e construindo sentidos para as ações situadas fora do quadro.
6 – Um Toque de Pecado, de Jia Zhang-Ke
Nos filmes de Jia Zhang-Ke as contradições da China são mostradas através de um constante choque gerado pela coexistência do capitalismo mais extremo com um ideal comunista paradoxal e corrompido. Em Um Toque de Pecado, mantendo um estilo de filmagem elegante e avesso a movimentos de câmera desnecessários, Jia conta a história de quatro cidadãos comuns que se entregam por motivos distintos a impulsos violentos.
Os personagens, de diferentes regiões e idades, só têm suas trajetórias cruzadas por meio de alguns detalhes – como o sugestivo final cíclico -, o que evita um impróprio discurso de causa e consequência e acaba por traçar um panorama desolador daquela sociedade. A cena em que uma mulher é surrada por não tratar seu corpo como uma mercadoria é a mais simbólica de uma obra em que o dinheiro é um elemento central, aquele que mais explicita o impasse ideológico e social que o país enfrenta. – Leia a crítica completa
5 – O Mestre, de Paul Thomas Anderson
Dono de uma filmografia pequena e invejável, com obras como Boogie Nights, Magnólia e Sangue Negro, o norte-americano Paul Thomas Anderson acertou mais uma vez em O Mestre, filme que se baseia no surgimento da Cientologia. O duelo de atuação dos ótimos Joaquin Phoenix e Phillip Seymour Hoffman é essencial para um filme que tem como eixo esse misto de atração e repulsão que os personagens sentem um pelo outro.
4 – Azul é a Cor Mais Quente, de Abdelatiff Kechiche
Se há algum tipo de voyeurismo em Azul é a Cor Mais Quente ele está presente na maioria dos planos que compõem as quase três horas de filme, e não apenas nas já famosas cenas de sexo entre as personagens. Kechiche utiliza predominantemente planos fechados (primeiros e primeiríssimos planos) que forçam a proximidade do espectador com os personagens e captam os menores detalhes: uma boca aberta, um lábio sujo por molho vermelho, uma lágrima, um catarro. Pode-se até questionar as escolhas do diretor, mas não há como negar que ele é coerente com o conceito estético que adota. – Leia a crítica completa
3 – Era Uma Vez em Anatólia, de Nuri Bilge Ceylan
A trama desse filme turco poderia ser mostrada por outros diretores em menos de dez minutos, mas Ceylan usa a história simples da procura noturna por um corpo assassinado para realizar um sutil e ao mesmo tempo profundo estudo sobre a natureza humana. O mistério principal é o que menos importa ao diretor, que demonstra um controle admirável sobre o tempo da narrativa.
2 – O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho
Logo no início da produção, imagens antigas em preto e branco mostram um antigo engenho no qual a escravidão estava em prática, com a nítida separação entre casa-grande e senzala. Voltando ao tempo presente, e focando suas ações em uma rua de classe média do Recife, o filme mostra como os resquícios do passado escravocrata brasileiro ainda interferem em nosso cotidiano.
Para isso, Kleber Mendonça Filho abre mão de qualquer recurso didático, como a tão usada narrativa em off, e abre espaço para que o espectador interprete de seu modo as sutilezas e ironias dessa história aparentemente simples. A direção, do mesmo modo, é sóbria e realista, apostando em planos predominantemente longos e estáticos que fazem com que o público adentre a rotina dos personagens e se familiarize com ela. – Leia a crítica completa
1 – Tabu, de Miguel Gomes
Depois do ótimo Aquele Querido Mês de Agosto, o português Miguel Gomes se consolida como um dos diretores mais interessantes da atualidade com essa peculiar obra-prima. Mantendo o humor peculiar do filme anterior, o diretor constrói uma história que tem como eixo central a memória, seja ela pessoal ou coletiva – incluindo aí a do próprio Cinema.
As recordações da juventude de Aurora constroem a segunda parte do filme de maneira original, com os diálogos sendo suprimidos por causa da falta de alcance da memória. Desse modo, vemos um exótico filme “mudo” (apesar da trilha e da narração em off), que homenageia os antigos filmes de aventura passados na África, reflete sobre a visão eurocêntrica da colonização africana e traz luz à melancólica existência da personagem em seus últimos anos de vida.
Menções Honrosas (filmes que não estão na lista, mas também se destacaram):
– A Cidade é Uma Só?, de Adirley Queirós
– A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino
– Um Estranho No Lago, de Alain Guiraudie (leia a crítica aqui)
– Killer Joe, de William Friedkin
– Las Acacias, de Pablo Giorgelli
– La Jaula de Oro, de Diego Queimada-Díez
– A Caça, de Thomas Vinterberg
– São Silvestre, de Lina Chamie
– Pietà, de Ki-Duk Kim (leia a crítica aqui)
– O Que Se Move, de Caetano Gotardo (leia a crítica aqui)
– Reality, de Matteo Garrone (leia a crítica aqui)